domingo, 29 de maio de 2011

CIENTISTAS POLÍTICOS ANALISAM MOMENTO ATUAL

A crise aberta na administração municipal com a deflagração da Operação Antissepsia, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deve afetar o processo eleitoral, mas numa proporção que ainda não é possível mensurar. Essa é a análise de intelectuais ouvidos pelo JL para avaliar o impacto da crise no cenário eleitoral e principalmente, nas chances do prefeito Barbosa Neto (PDT) tentar a reeleição. Apesar de não se declarar publicamente como candidato à reeleição, o pedetista tem se movido nessa direção.

Um exemplo de que o projeto de reeleição estava em movimento é que antes da crise, Barbosa Neto tentou emplacar um “pacote de bondades”, com medidas como o subsídio da passagem de ônibus, impedindo o aumento e reduzindo o preço em R$ 0,05.

Para o cientista político e professor universitário Mário Sérgio Lepre, a dificuldade de mensurar a capacidade de estrago do escândalo numa tentativa de Barbosa Neto de se reeleger é o tempo que separa a crise do processo eleitoral de 2012. “Ainda tem um certo tempo. Para quem está na prefeitura, nada é impossível de reverter. Mas a impressão que se tem é que a situação fica complicada em caso de reeleição”, avalia Lepre. “O desgaste está posto”, completou. Para Lepre, apesar da possibilidade de o tempo e um eventual esfriamento do escândalo da saúde reduzir danos, “vai haver algum tipo de reflexo na candidatura de Barbosa Neto”.

Na avaliação do cientista político, o cansaço do eleitorado com os escândalos “é razoavelmente desgastante” para o pedetista. Para Lepre, uma das possibilidades para o esfriamento do escândalo, o que poderia salvar eleitoralmente a situação de quem está no governo é a “falta de ponto final” nos escândalos. “No Brasil há um problema sério: tem acusações, prisões temporárias, mas não tem um ponto final nas coisas. Isso é ruim porque se não há condenação, não se pode provar nada”, concluiu.

Previsão difícil
Para o sociólogo e professor universitário Marco Rossi, “é difícil prever” qual será o impacto do escândalo no processo eleitoral, porque não é possível saber “até que ponto vão as investigações, se isso vai esfriar”. “Se a eleição fosse neste ano, teria prejuízo grande [para quem está no governo]”, afirmou. “No Brasil temos escândalos dois anos antes do processo eleitoral que interferem diretamente no voto”, analisou. Mas o impacto dessa interferência é difícil de ser medido. Rossi lembrou do episódio do “mensalão”, de 2005, mas que não impediu a reeleição de quem estava no governo – no caso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para Rossi, o nível de impacto do escândalo na crise depende também de como os opositores vão usar isso na disputa eleitoral. “Os partidos opositores não veem sentido em fazer isso, até por uma questão de corporativismo. Na política as crises, mesmo em relação aos adversários, não são capitalizadas porque amanhã pode ser a vez do outro”, concluiu.

Prefeito perdeu dois secretários

Se os efeitos políticos da Operação Antissepsia ainda não são mensuráveis para o prefeito Barbosa Neto (PDT) e as suas chances de reeleição, administrativamente eles são claros.

Desde o início das investigações, o prefeito perdeu dois secretários: o procurador Fidélis Canguçu, preso no primeiro dia da operação e Lindomar Santos (Fazenda), que deixou o governo depois de negar que tenha feito um empréstimo a André Nadai, presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU). A tese do empréstimo seria a forma de justificar os R$ 29 mil em dinheiro encontrados na cada de Nadai durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão.

Além desses três, prestaram depoimento no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) os secretários de Saúde, Ana Olympia; e de Gestão Pública, Marco Cito. Além dos secretários, o próprio prefeito Barbosa Neto e sua esposa tiveram que depor. Ana Laura Lino, prestou depoimento ao Gaeco, na tarde da última sexta-feira. Durante as investigações da Operação Antissepsia, ela foi citada pelo ex-membro do Conselho Municipal de Saúde, Marcos Ratto, como suposta beneficiária do esquema de pagamento de propina. Depois de quase três horas de interrogatório, a primeira-dama e seu advogado, Luiz Carlos Mendes, saíram sem falar com a imprensa.

Barbosa é atingido indiretamente

Apesar de cinco secretários e da esposa do prefeito Barbosa Neto (PDT) terem ido ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) prestar esclarecimentos, o pedetista conseguiu, até aqui, separar a sua imagem do escândalo. Essa é a avaliação de Elvi Censi, professor de Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina (UEL). “Até agora as coisas não chegaram nele, o nome não foi citado diretamente”, analisa Censi. Isso não significa que o pedetista esteja imune à crise. Para Censi, ainda que a figura do prefeito não tenha sido relacionada ao escândalo, ele é atingido indiretamente. “Seja por ter ou não participação direta ou de não ter ou perceber algo errado, ter reagido”, analisa.

Censi lembra que, em entrevista, o secretário de Gestão Pública, Marco Cito, “disse que tentou suspender os pagamentos, então tinha alguma coisa errada logo e ele suspendeu o pagamento. Se no terceiro mês aconteceram problemas, não teria como ter antecipado problemas antes de firmar o contrato?”, questionou o professor. Ele também considera delicado o fato de a primeira-dama ter sido citada no decorrer das investigações. “Até o momento não há nenhuma prova concreta, mas ficou o dito pelo não dito. Ficou como um boato, e boatos causam estragos políticos”, analisa Censi.

Outro fator importante nessa crise é o fato de ela mexer com a saúde pública, um setor delicado. “Tem o preço político disso. A administração não foi competente para evitar o problema ou intervir. A intervenção veio pelo MP”, comentou Censi. Ele lembra que além da crise com os institutos, há fato de que existe uma “crise permanente” da saúde. Nesse sentido, para a população, liga os problemas do atendimento nos serviços públicos às denúncias sobre corrupção no setor. “O estrago político, mesmo que o prefeito não esteja envolvido, está consolidado”, completou.

Censi lamentou que de todo esse episódio, fica a sensação negativa de que os problemas da saúde são discutidos no noticiário policial. “Em vez de discutir políticas públicas para o setor, estamos discutindo na página policial.”

Fonte: JL

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