domingo, 3 de junho de 2012

PARA SER VEREADOR EM LONDRINA

Quanto custa para se eleger vereador em Londrina?

Em alguns casos, os três meses de campanha será marcado por muito trabalho e despesas; em outros, candidatos preferem 'trocar favores' com eleitor

Pelo menos 500 londrinenses têm a pretensão de se candidatar a vereador em Londrina nas eleições de outubro. A partir de 2013, os vencimentos dos eleitos subirão para R$ 12 mil mensais, o que deve atrair um número maior de postulantes a uma das 19 cadeiras no Legislativo. Muitos se perguntam: quanto custa uma campanha para se eleger na cidade?



Segundo especialistas ouvidos pelo Bonde, são necessários cerca de R$ 10 mil, dinheiro que será utilizado na manutenção de pelo menos um carro seminovo, na aquisição de litros e litros de combustível, na contratação de cabos eleitorais e na confecção dos famosos 'santinhos'.



Isso se o candidato não quiser produzir algo para ser veiculado nas emissoras de rádio e TV. A produção de uma mídia simples, com 30 segundos, sai por cerca de R$ 3,5 mil. Os custos foram avaliados pelo jornalista e marketeiro político, Claudio Osti, que já participou da coordenação de diversas campanhas em Londrina e região.



"Para que o candidato tenha chances de se eleger, ele vai precisar investir muito tempo e pelo menos de R$ 10 mil a R$ 15 mil na campanha. Mas, do jeito que as coisas estão, não dá para se garantir nada", disse. Segundo Osti, existe uma série de variáveis que influencia consideravelmente na possibilidade da conquista de uma cadeira na Câmara.



A principal delas, na avaliação do marketeiro, está relacionada ao fato de o candidato ser vereador. "Quando já se é parlamentar, a campanha da reeleição fica muito mais barata. Ele já tem uma base eleitoral. Durante o mandato, dá para continuar teoricamente fazendo campanha, em contato direto com os eleitores. O candidato dá a 'largada' com um número 'x' de pessoas que ele sabe que vai poder contar", explicou.



Por outro lado, no caso do candidato que pretende disputar uma eleição pela primeira vez, a situação fica muito mais complicada. De acordo com Claudio Osti, o interessado precisa apostar em 'nichos' eleitorais específicos e torcer para se dar bem. "Se ele é professor, por exemplo, pode conseguir apoio em sindicatos e escolas. Caso seja conhecido em determinada região da cidade, precisa criar vínculo com associações de moradores."



Outra questão importante, de acordo com Osti, é a "otimização da agenda eleitoral". "Se o candidato tem um cabo eleitoral que sabe trabalhar bem com a agenda, ele vai conseguir otimizar o tempo, agilizar a campanha e diminuir custos. Não é preciso ter 30 apoiadores trabalhando para você se a programação dos eventos for bem elaborada", explicou. "É por isso que tem candidato que investe R$ 200 mil na campanha e não se elege e outros que custeiam tudo com menos de R$ 20 mil e conseguem resultados positivos", completou.



'Custo impossível'



Levantamento feito pelo Bonde no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que muitos vereadores eleitos no pleito de 2008 investiram bem menos que o valor considerado mínimo pelo maketeiro em suas respectivas campanhas. Diversos candidatos declararam, média, cerca de R$ 8 mil de gastos ao Tribunal. As despesas de outro não passaram dos R$ 6 mil. Um deles chegou a declarar menos do que R$ 2 mil ao TSE.



Confira quanto seu candidato arrecadou e gastou nas últimas eleições







"É um custo impossível. Eu, por exemplo, gasto cerca de R$ 400 por mês com combustível. Imagina o candidato? Se ele quiser se eleger, vai precisar rodar pelo menos 5 mil quilômetros por mês visitando bairros para participar de reuniões e eventos e conversar com o eleitor. Só de gasolina, nos três meses de campanha, o candidato vai gastar mais do que o valor declarado ao TSE por um dos atuais parlamentares, sem contar a contratação dos cabos eleitorais, confecção dos 'santinhos', entre outras despesas", argumentou Osti.



Uma questão que costuma iludir muito candidato, segundo ele, é a ajuda partidária. "Algumas legendas ajudam, mas a maioria não. O candidato precisa entender que ele vai ter que se virar sozinho. O único custo bancado pelo partido é a divulgação na mídia. Ele contrata a produtora para fazer a campanha do prefeito e já inclui no pacote a produção para os candidatos a vereador."



'Assistencialismo'



Na visão do cientista político Elve Cenci, muitos candidatos a vereador diluem os custos da campanha em "assistencialismo e clientelismo". "Você presta um favor ao eleitor e cobra depois nas urnas. E a situação fica ainda pior quando está relacionada a um candidato à reeleição. Como já é parlamentar, ele providencia medicamentos, ambulâncias, asfalto, cria inúmeros requerimentos na Câmara e faz uma troca de favores com a sua base eleitoral. O assistencialismo, neste caso, é errado, é corrupto", analisou. "O candidato cria uma identidade com determinada região e cobra sem nenhum pudor", completou.



O problema, segundo ele, é que "a corrupção não dá recibo e nem exibe nota fiscal". "Existem troca de favores, compra de votos, custos não declarados. Só que é difícil comprovar a origem dos problemas, mensurar os custos. E é por isso que muitos se aproveitam."



O que também tem muito nas campanhas, de acordo com Censi, é uma questão definida por ele como "teoria da pirâmide". "O candidato contrata dez cabos eleitorais, que contratam mais dez, que contratam outros dez. O valor pago ao apoiador é irrisório, tanto é que ele nem chega a trabalhar. O que interessa neste caso, na verdade, é a transferência do trabalho oferecido para as urnas. É uma forma mais sofisticada de compra de votos", explicou.



"Mas é importante lembrar que isso só acontece porque existem eleitores que aceitam ser corrompidos, que estão dentro da cultura de que o período eleitoral é propício para se ganhar coisas dos políticos, no estilo 'me ajuda que eu te ajudo'", enfatizou.



O que falta ao eleitor, na avaliação do cientisto político, é discernimento para entender que ele não precisa dar nada em troca. "As políticas sociais precisam ser tratadas como públicas. É uma questão que precisa ser impessoal."

Guilherme Batista - Redação Bonde

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