Que dor é essa?
A dor de cabeça, segundo o neurologista do Hospital de Clínicas (HC) Elcio Juliato Piovesan, especialista em cefaleias, é dividida em dois grandes grupos. O primeiro são as cefaleias primárias, em que a dor é a doença. A mais comum é a cefaleia do tipo tensional, que é a dor de cabeça de fim de dia, está relacionada ao estresse. “Geralmente é bilateral, como se houvesse uma faixa comprimindo a testa. É uma dor de leve a moderada”, diz. A segunda mais comum é a enxaqueca. Seus 19 subtipos diferem entre si, mas contam com componente genético. É uma dor pulsátil, de moderada a severa e, normalmente, unilateral. Ela geralmente piora quando a pessoa se movimenta e promove aversão à luz, ao barulho, náusea. Estes dois tipos correspondem a 98% dos casos das cefaleias primárias. Há ainda um segundo grande grupo, as cefaleias secundárias – quando a dor é sintoma de alguma outra doença, como tumor cerebral, problema de visão, meningite, distúrbios do sono, hipertensão intracraniana.
Como diferenciar
É preciso ficar muito atento às características da dor. Como não há exames técnicos para o diagnóstico, o relato do paciente é importante. Alguns médicos sugerem até a adoção de um diário, com a anotação dos sintomas, de como é a dor, onde é, que alimentos foram ingeridos e as emoções que possam ter colaborado para a instalação da crise. De acordo com Vanessa Rizelio, neurologista do Instituto de Neurologia de Curitiba, padrões parecidos indicam um mesmo problema, mas, quando surgem componentes novos – amortecimentos, perda visual, dificuldades na fala, perda de força – a não melhora da dor, pode ser indicativo de alguma outra doença. Ou seja, se a dor é igual à que você sempre tem e ela se alterna com períodos assintomáticos, muito provavelmente é um caso de cefaleia primária. Mas quando a dor foge completamente do usual, pode ser indicativo de outro problema.
Sinais de alerta
Se você não tinha dor e passa a ter, se a dor mudou de intensidade, frequência e localização, se faz uso de muitos remédios, se a dor não passa com os medicamentos que sempre usa ou se tem dor de cabeça mais de dois dias na semana, preste atenção. Várias doenças podem estar por trás do sintoma. O neurologista, neurofisiologista e chefe do Serviço de Neurologia do Instituto de Neurologia de Curitiba, Pedro André Kowacs, que coordena o setor de cefaleias do Serviço de Neurologia do HC, aponta que as principais causas de cefaleia secundária são tumores intra-cranianos, doenças infecciosas como meningite, causas hormonais (endócrinas), doenças autoimunes, doenças vasculares como a trombose de veias intra-cranianas, aneurismas cerebrais e hipertensão intra-craniana. Por vezes, essas dores podem parecer com as enxaquecas e, por isso, o diagnóstico deve ser cuidadoso. Nesses casos, os tratamentos convencionais para a dor de cabeça costumam não ajudar. É preciso descobrir a causa da dor e tratá-la.
Quando procurar um médico
O ideal seria que, diante de uma crise de enxaqueca e de dores mais importantes, procure o médico. Mas um sinal de alerta é quando a dor compromete a qualidade de vida. Ter dor de cabeça dois dias da semana, por exemplo, na opinião de Piovesan, já é motivo suficiente para procurar ajuda. É melhor investigar as causas do mal-estar e tratá-lo corretamente do que fazer uso indiscriminado de analgésicos. A automedicação pode, por exemplo, provocar a chamada dor de cabeça induzida, quando o corpo tem além da cefaléia inicial, uma segunda, por intoxicação causada pelo excesso de medicamento – que é muito mais difícil de ser tratada.
Tratamentos alternativos
Botox, acupuntura, fitoterápicos, ioga. Algumas terapias alternativas podem colaborar no controle das crises de dor de cabeça. Para a prevenção da enxaqueca, por exemplo, há os nutracêuticos (como riboflavina, coenzima Q10 e o magnésio) e a acupuntura. Kowacs explica que, recentemente, foi comprovado que a toxina botulínica é mais eficiente do que o placebo na prevenção de enxaqueca crônica – aquela que dura mais de 15 dias por mês em mais de três meses. Ioga, caminhadas, massagens, técnicas de respiração e relaxamento podem ajudar a desestressar e, portanto, reduzir a cefaleia tensional.
99% da população mundial sofre de dor de cabeça, um mal bem democrático. Tudo bem que ela não seja igual para todo mundo, mas o fato é que ela não poupa gêneros, classes sociais ou faixas etárias e costuma não desaparecer depois do primeiro analgésico.
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