As mulheres têm adiado cada vez mais a "visita da cegonha", para poderem se dedicar à carreira e, quando pensam em ser mães, a produção de óvulos já não está mais a todo vapor. Além disso, há aquelas que possuem problemas de saúde que afetam a fertilidade. Para estas mulheres, uma das saídas para realizar o sonho da maternidade são os tratamentos de fertilização e a doação de óvulos. "Aquelas que recorrem à doação, as receptoras, geralmente, não têm mais condições de formar óvulos. Elas podem ser jovens com menopausa precoce ou com alterações cromossômicas, ou, mais velhas, na idade próxima da menopausa", contou o ginecologista especializado em reprodução humana Arnaldo Schizzi Cambiaghi, do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO), da capital paulista. A doação de óvulos ainda não é algo tão comum quanto a doação de sêmen, embora ambas representem atos de amor ao próximo e de desprendimento. "Diria que as mulheres aceitam melhor a doação de óvulos do que os homens aceitam a de sêmen. Por mais que o DNA da criança seja o da doadora, é a receptora que vai engravidar, sentir os sintomas e o bebê mexendo, ter as dores do parto, reforçando a maternidade. Ter um neném com a carga genética diferente perde a importância diante de tudo isso", explicou o ginecologista Edilson Ogeda, do Hospital Samaritano de São Paulo (SP). Quem pode doar Não há, no País, uma legislação específica sobre o assunto. Todavia, Cambiaghi afirmou que óvulos não podem ser vendidos e a mulher que opta por doá-los o deve fazer anonimamente. "A doadora deve ser uma mulher jovem, de até 35 anos, que tenha produzido uma boa quantidade de óvulos", destacou o especialista. Edilberto de Araújo Filho, especialista em reprodução humana assistida e diretor do Centro de Reprodução Humana de São José do Rio Preto (SP), explicou ainda que a doadora tem que se submeter ao procedimento de reprodução assistida por indicação médica. "Não é permitido se submeter à estimulação ovariana, captação de óvulos etc, sem a indicação médica, porque o procedimento não é isento de riscos", contou. Além disso, a doadora deve viver em uma região diferente da receptora, elas não podem ser parentes e não pode haver doação para mais do que duas pessoas diferentes. Ogeda contou que, ao passar por um processo de fertilização, as mulheres são submetidas a uma superovulação induzida por medicação e acabam produzindo mais óvulos do que vai utilizar e escolhe não congelá-los. E o processo é trabalhoso: "durante a indução da ovulação, acompanhamos o processo por meio de ultrassons transvaginais realizados dia sim, dia não, para ver como está a resposta do órgão ao medicamento. Quando está favorável, a mulher toma outro remédio, e a coleta é realizada com anestesia, por meio de ultrassom transvaginal com aspiração dos óvulos. Isso leva cerca de 15 dias para acontecer", contou. Cambiaghi comentou que os óvulos congelados não têm um prazo de validade e podem ser doados também. Ao aceitar uma doação, a receptora tem acesso a dados gerais e raciais da doadora. "Fazemos uma pré-seleção sobre as doenças genéticas graves, para descartar qualquer possibilidade de má formação, distrofias etc. Aí, separa-se por grupos raciais, para que a criança apresente características semelhantes às de seus pais", contou o ginecologista do Hospital Samaritano, que lembrou que uma das maiores dificuldades na ovodoação é encontrar doadores de origem asiática. Araújo Filho comentou que até os especialistas tentam até mesmo casar os tipos sanguíneos das duas mulheres para evitar problemas e sempre sugerem que o sangue do cordão umbilical seja congelado para o caso de precisarem usá-lo no futuro, sem incomodar a doadora. Os médicos condenam, no entanto, a tentativa de selecionar características físicas para o bebê. A maioria das clínicas de fertilização conta com bancos de óvulos onde os casais podem encontrar a chance de ter um filho. "Quem doa mostra uma liberalidade e um ato solidário. Me preocupo apenas com a receptora, pois o casal tem que estar em muita sintonia para receber a criança como uma benção e não como um problema", afirmou Ogeda. Ela doou! Após descobrir que uma de suas trompas uterinas estava entupida, Janaina Shumiski e seu esposo, moradores de São Paulo (SP), procuraram a ajuda de Cambiaghi para tentar engravidar. "Já na primeira consulta, recebi uma apostila e um livro sobre fertilização e, um dos capítulos abordava a ovodoação. Fiquei curiosa e conversei com o médico sobre o assunto. Passei pelo processo de estimulação ovariana duas vezes, pois, na primeira tentativa, não consegui engravidar. Nessa segunda vez, produzi 35 óvulos, dos quais dez ficaram para mim e apenas três foram implantados, gerando meus trigêmeos, que hoje têm cinco meses. Como sou evangélica e não pretendo engravidar novamente, optei pela doação dos outros óvulos para ajudar quem também queria ser mãe. Não tenho como saber quantos óvulos foram usados ou quantas mulheres os receberam, mas torço para que elas também tenham conseguido realizar o sonho de ter filhos."
terça-feira, 29 de março de 2011
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