Decepcionados com a falta de planejamento e gestão na coleta seletiva de Londrina, moradores que há anos participam do programa de reciclagem municipal já admitem parar com a separação de resíduos nas residências. O lixo de áreas de classe média e do centro da cidade é armazenado irregularmente a céu aberto – sob risco de tornarem-se focos de proliferação de dengue - em barracões das cooperativas coordenadas pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU).
Na sexta-feira, o JL mostrou que os sete barracões da coleta seletiva estão abarrotados de lixo e perderam a capacidade de operação para triagem. Em um deles, às margens da PR-445, zona sul, em frente ao Conjunto União da Vitória, o JL registrou milhares de sacos verdes, originados de todos os bairros de Londrina, despejados como em um depósito clandestino. No maior depósito logístico do sistema, a Vigilância Sanitária encontrou 20 focos do mosquito da dengue.
Na Cooprelon e na Coopersil, recipientes ficam expostos nos sete barracões do sistema.
“Desisti de separar. Se a CMTU não tem uma coordenação decente do lixo, que pelo menos a população destine o reciclável misturado. No caminhão de lixo comum tudo vai ser enterrado sem esse risco para nós moradores”, indigna-se a professora aposentada Martha Beatriz Guglielmi de Barbetta, moradora de um prédio na Rua Belo Horizonte. “Não adianta enganar a população. Se o governo municipal não faz a parte dele, que aterrem tudo até que se resolva o problema”, reforça a moradora. “Melhor enterrar do que ver o meu lixo causando uma epidemia de dengue na cidade.”
Síndica do prédio, Roseli Esteves diz que a decisão tomada por Martha pode se tornar uma indicação coletiva. Com 45 apartamentos, os moradores do edifício de 15 andares devem decidir, em breve, pelo fim da separação dos resíduos, diante da reportagem mostrada pelo JL.
“Além do caminhão não passar com regularidade, ficamos muito preocupados porque aqui no prédio controlamos o problema da dengue. Infelizmente, sentimos que deveríamos tomar uma providência e não vemos outra forma se não parar de fazer a reciclagem enquanto a CMTU não resolver o problema de uma vez”, alerta a síndica.
O depósito do prédio está abarrotado de resíduos que, em breve, podem ser deixados para o caminhão da coleta de rejeitos comuns.
17ª Regional vê “claro perigo”
A representante da Secretaria Estadual de Saúde em Londrina (17ª Regional de Saúde), Djamedes Garrido qualificou o depósito irregular de lixo das cooperativas de reciclagem, mostrado na edição de sexta-feira do JL, como “um claro perigo para a população de Londrina”. “Ou a CMTU se organiza ou vamos entrar novamente em um ciclo complicado da doença [dengue] na cidade”, alerta. Segundo ela, desde setembro do ano passado, quando o Comitê de Combate à Dengue deu um ultimato à Prefeitura para resolver o problema na cidade, nada mudou. “Está tudo igual e o problema do lixo em Londrina tem relação direta com os casos de dengue”, afirma.
Nesta semana, a coordenadora da 17ª Regional pretende encontrar-se com o secretário de Saúde de Londrina, Edson de Souza. “Vamos mostrar os documentos e decisões do Comitê de Combate à Dengue que já foram entregues ao prefeito porque quase imploramos por respostas e soluções mais firmes”.
Entre as medidas sugeridas pelo comitê estão contratação de mais agentes de controle da dengue e de mais uma cooperativa de recicláveis pela CMTU - a cooperativa Cooprelon foi contratada, mas está sob investigação do Ministério Público por suspeitas de fraude. Também foi recomendado a fiscalização de despejos irregulares de resíduos e a limpeza dos oito ecopontos, que continuam como focos críticos de sujeira.
Em entrevista ao JL na semana passada, o presidente da CMTU, André Nadai, evitou classificar os problemas da coleta seletiva como um colapso do sistema. Para ele, a questão é temporária e “causada por situações atípicas” – excesso de resíduos de fim de ano aliado a dificuldades no aluguel de novos barracões.
O que diz o Código de Posturas
As instalações que armazenam resíduos sólidos devem possuir infra-estrutura mínima adequada prevendo proteção contra chuva, organização interna, restrição de acesso, dispositivo que impeça a entrada e proliferação de vetores, animais peçonhentos, acúmulo de água e de toda forma mantendo o ambiente organizado e em condições adequadas para higiene e limpeza, devendo ser fechados com muros em todas as faces do lote, com altura mínima de 2,50 m.
Fonte: JL