Maioria no eleitorado – tanto no país quanto em Londrina –, as mulheres são minoria tanto na disputa pelo Legislativo quanto nas próprias cadeiras da Câmara de Londrina. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 360.295 eleitores aptos a votar em Londrina, 192.041, ou 53,3%, são mulheres. Já entre os candidatos a vereador elas representam apenas 29,53% de todos os postulantes à Câmara Municipal: são 114 candidatas do total de 386 inscritos para disputar a eleição proporcional neste ano. A representação na Câmara Municipal é ainda menor: com duas vereadoras entre os 19 eleitos em 2008, a bancada feminina representa apenas 10,5% das cadeiras na Casa. O baixo porcentual de candidatas nessas eleições significa que a maioria dos partidos não conseguiu sequer cumprir a cota legal de 30% de mulheres em suas chapas.
Para a socióloga Silvana Mariano, doutora em Sociologia e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL), vários fatores explicam a sub-representação feminina, entre as quais, estão a “estrutura político-partidária, o sistema eleitoral e a cultura política” do país.
Segundo ela, no debate sobre o sistema de cotas para as mulheres nas chapas ao Parlamento, “fica muito evidente o problema com as estruturas partidárias”. “Os partidos políticos não investem na formação de carreiras políticas de mulheres, não investem na formação dos seus quadros políticos que contemplem a questão da participação das mulheres e a preocupação da lei de cotas.”
Na avaliação da socióloga, “é comum que os partidos destinem mais dinheiro e tempo para as candidaturas masculinas”, razão pela qual “o sistema de cotas não produziu ainda no Brasil efeitos para alterar a lógica masculinista em funcionamento nos partidos políticos”.
Outro problema apontado por Silvana Mariano é a dupla jornada de mulheres que trabalham fora e ainda assumem sozinhas tarefas domésticas, dificultando a participação política. “A dificuldade para as mulheres conciliarem a dinâmica de uma vida doméstica com a atividade político-partidária. Os homens não enfrentam esse desafio. É sabido que as mulheres têm esse problema extra e os partidos não criam nenhuma estratégia para favorecer isso [a participação feminina]”, analisa Silvana Mariano. Ela lembra que os homens que participam da política contam com o “apoio logístico” das esposas para os cuidados com o lar, mas o inverso não acontece, quando as mulheres vislumbram a participação política.
Isso faz com que as mulheres, na maioria dos casos, marquem presença nos movimentos de base. “Porque isso possibilita uma maior conciliação entre as atividades domésticas e as atividades políticas. Na medida em que essa forma de participação se distancia do local de moradia, dificulta a conciliação com as tarefas domésticas, aí tem um filtro, cria um funil na participação.”
Lei de cotas é pouco eficiente
De acordo com a socióloga Silvana Mariano, o sistema de cotas para mulheres nas chapas para o Parlamento, funcionou bem em países vizinhos, como a Argentina. Isso porque, além de exigir a participação das mulheres nas chapas, o sistema eleitoral argentino funciona por listas. Segundo ela, nesse caso “o potencial do sistema de cotas é maior”, já que no caso portenho os partidos são obrigados a alternar homens e mulheres na lista. Por esse sistema, o partido apresenta a lista e são eleitos os primeiros dessa lista. Se a legenda conquista três cadeiras, são eleitos os três primeiros.
No sistema proporcional, como o brasileiro, a prioridade em termos de exposição e de recursos é para os candidatos considerados “puxadores de votos”. “No Brasil o eleitor escolhe pessoas e não partidos, então a lei de cotas se torna muito pouco eficiente, as mulheres ficam barradas por um tipo de seleção que os partidos fazem de prioridade aos candidatos”, explicou.
'Nosso papel é estimular’
Nádia Moura, uma das poucas mulheres a presidir um partido político em Londrina, o PTB, vê com otimismo a participação feminina na política. Ela lembrou que o PTB é um dos poucos partidos que cumpriu e superou a cota na sua chapa de vereadores: dos 21 candidatos, 14 são mulheres, o que dá 33% das vagas. “Pelo fato de eu ser mulher e presidente do partido, conseguimos trazer muitas mulheres para a participação, tanto que superamos a cota”, afirmou. Nádia, que não disputa a eleição deste ano – e até aqui não disputou nenhuma eleição – afirmou que a participação feminina no partido também aumentou na sua presidência.
Questionada sobre a possibilidade disso refletir na composição da Câmara, a petebista diz que está “torcendo bastante para que isso aconteça”, mas admite que por enquanto só é possível torcer. “O nosso papel é estimular e motivar, dando esse apoio para que realmente elas avancem e consigam buscar um numero maior de votos”, afirmou
Fonte: JL
Nenhum comentário:
Postar um comentário